Na madrugada de 20 de agosto de 1929, após muitos preparativos e compras de alimentos e arreios e cangalhas e ferramentas e tudo o que seria necessário para a grande jornada heróica, essa primeira turma de pioneiros partiram de Ourinhos-SP e chegaram em Cambará-Pr., que era conhecida como “A BOCA DO SERTÃO”. Em Cambará-Pr., o Sr. Alberto Loureiro e a sua turma de trabalhadores se juntaram à caravana.
Era uma aventura tremenda, pois não era possível prever o que iríamos encontrar pelo caminho, talvez até índios que haviam na região de Laranjinhas-Pr., como mais tarde foram encontrados.
Sendo tempo seco, fizemos uma viagem relativamente boa, apesar das terríveis condições das estradas, e chegamos em Jatahy (que se chama Jataizinho) à tarde do mesmo dia.
Pelo caminho atravessamos três rios, antes de chegar em Jatahy. Os rios Das Cinzas e Laranjinhas atravessamos em balsa muito perigosas, mas quando chegamos ao Rio Congonhas, não havia, nem ponte, nem balsa. E agora, o que fazer? Como não era época de cheia e o leito sendo de pedra, com coragem e fé, avançamos dentro da água com o caminhão carregado e tudo, e, pela graça de Deus, conseguimos alcançar a outra margem, e com o motor roncando com toda a sua força, subimos a barranca da outra margem.
Com grande alívio, continuamos a viagem até chegarmos à temível Serra Morena, que era o pavor dos motoristas, pois o caminho estreito que ladeava a montanha era cheio de buracos e pedras soltas. Se os veículos não subissem de uma só arrancada, e não tivesse bons breques e parassem no meio da subida, eles corriam o perigo de rolar abismo abaixo, como de fato aconteceu com alguns.
Ao chegarmos no alto da serra, logo damos com a pensão e restaurante do português João Gomes e lá pudemos descansar um pouco e nos lavar e comer algo e nos preparar para a etapa final da viagem até Jataizinho, onde chegamos sem mais grandes problemas, à tarde do mesmo dia 20 de agosto de 1929.
Em Jatahy a Cia. havia mandado construir, por intermédio de um outro pioneiro escocês, Ian Fraser, da Cia. Territorial Maxwell, dois grandes ranchos de palmito, para servirem de alojamento, o escritório e armazém da Cia. de Terras.
Em Jatahy imediatamente descarregamos o caminhão e nos preparamos para continuar a jornada no dia seguinte, pois o nosso destino era as terras da Cia. de Terras Norte do Paraná, que estavam ainda há 22 quilômetros além do rio Tibagy.
O jovem chefe da caravana então tratou logo de comprar várias mulas de carga e montarias necessárias para o resto da viagem que seria através dum picadão escuro e barrento no meio da mata virgem. Contratou-se também um índio manso para servir de tropeiro. Esse índio falava com as mulas em sua língua e elas lhe obedeciam misteriosamente. Muitas vezes o jovem paulista teve que, ele mesmo, bancar o tropeiro, quando o índio não aparecia no serviço.
Na madrugada do dia 21/08/1929 estava tudo pronto para a arrancada final da grande jornada, porém havia ainda um grande e aparentemente intransponível obstáculo: não havia nem ponte, nem balsa no grande rio Tibagy. Como que haveríamos de atravessar aquelas águas perigosas.
A caravana não podia parar. Então tratamos de alugar todas as canoas que haviam na cidade e os seus respectivos donos para remá-las. Assim, com grande sacrifício e perigo de vida, conseguimos transportar todo aquele material e toda aquela gente para a outra margem tendo o jovem paulista feito várias viagens de ida e volta, ele mesmo remando uma das canoas feita de tronco de árvore e com muita perícia.
E as mulas? Ah, sim. Elas travessaram a nado! Uma de cada vez, ao lado das canoas. Enquanto uma pessoa remava, a outra guiava a mula pelo cabresto.
Finalmente, depois de um trabalho tremendo, tudo estava pronto, com toda a mercadoria nos lombos dos burros em cangalhas e foi iniciada a longa e penosa caminhada até as terras da Cia.
A viagem foi lenta, pois o picadão dentro da floresta fechada era todo cheio de buracos e lama.
Depois de muitas horas de marcha lenta, o engenheiro Dr. Alexandre Razgulaeff, jovem russo e dinâmico, olhou para os seus mapas, parou a turma e disse: “Chegamos”. Perguntamos-lhe: “Chegamos aonde?”, pois era tudo floresta fechada ao nosso redor. “Chegamos na divisa das terras da Cia. de Terras Norte do Paraná”.
Então logo descarregamos e amarramos as mulas para não fugirem, o que seria uma tragédia. O sr. Alberto Loureiro, português, homem de coragem e grande energia, empreiteiro contratado pela Cia., logo reuniu os seus trabalhadores e abriram uma pequena clareira e construíram dois ranchos de palmito, que foram as duas primeiras habitações nesta zona toda. Essa primeira derrubada e esses dois ranchos estavam localizados onde hoje as encontra a firma Anderson Clayton.
E assim, meus queridos amigos, agora vocês conhecem como foi iniciada esta linda cidade de Londrina (Pequena Londres) e como que começou este tremendo progresso que existe hoje nesta cidade e em todo o norte do Paraná.
Salvo erro ou omissão, os nomes daqueles bravos pioneiros que fizeram parte daquela primeira caravana são os seguintes:
George Craig Smith – funcionário da Cia. Terras e responsável pela caravana.
Dr.Alexandre Razgulaeff – engenheiro agrimensor.
Alberto Loureiro – empreiteiro.
Erwin Frölich
Joaquim B. Barbosa
Spartaco Bambi
Geraldo Pereira Maia
Vários trabalhadores braçais.
E aquele jovem paulista, que liderou aquela jornada heróica e que é hoje um dos poucos sobreviventes daquela turma de pioneiros, é o que tem a grande honra e satisfação de falar com vocês nesta tarde. Espero, pois, que esta pequena narrativa possa acender uma centelha de ambição nos seus corações e incentivar vocês à vida mais nobre e útil e sadia e de novas conquistas para a grandeza do Brasil e sempre guiados pelo meu e seu melhor amigo, o senhor Jesus Cristo, o qual é hoje o meu Chefe Supremo, pois a Bíblia, que é a Palavra de Deus, nos promete que: “Em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por Aquele (Jesus Cristo) que nos amou”. (Rom.8:37)
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