JORNAL DE LONDRINA
No início, Londrina era anunciada como terra “prometida”
Fruto do projeto de colonização da Companhia de Terras do Norte do Paraná, cidade foi destino de colonos de 33 nacionalidades
- Antoniele Luciano/especial para o JL
Uma terra em área privilegiada pela natureza, dotada de clima
inigualável e salubre. Uma terra roxa de primeira qualidade. Assim eram
qualificados os lotes de 10 alqueires para cima, comercializados em
Londrina pela Companhia de Terras do Norte do Paraná, em 1931. Os
materiais de divulgação da época traziam a imagem de um milho gigante em
um cafezal novo, a informação sobre a existência de terrenos planos,
sem montanhas, saúvas e pedreiras, com água boa, corrente e ligados à
estrada de rodagem. Era o negócio de oportunidade para quem, como bem
dizia um dos fôlderes criados pelos ingleses, queria "construir lar e
formar em pouco tempo o seu futuro".
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Hospital e campo de tênis da Cia de Terras do Norte do Paraná em 1934 (Crédito: Acervo Museu Histórico de Londrina)
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Casa Comercial Alberto Koch, década de 1930 (Crédito: Theodor Preising / Acervo Museu Histórico de Londrina)
A promessa era de que o solo londrinense era apto a produzir lucro
com o que fosse do ramo da agricultura. Os lotes eram vendidos para
pagamento em até quatro anos, com juros de 8% ao ano. Entre os
paulistas, havia a possibilidade de obter a passagem de trem gratuita,
com saída de Ourinhos, até Cornélio Procópio, a fim de fazer uma visita
ao antigo Patrimônio de Três Bocas, Londrina antes de sua emancipação. O
trajeto até a localidade era concluído de automóvel ou jardineira.
Eram mais de 515 mil alqueires prontos para venda, recorda o
jornalista e pesquisador da História de Londrina, Widson Schwartz.
"Sobre a qualidade da terra, sem dúvidas, não havia mentira. Diz-se que
Lord Lovat, da Companhia de Terras, veio visitar o Paraná em busca de
terras para plantar algodão, mas deduz-se que o governo do Paraná já
queria colonizar a região e buscava um parceiro para isso", comenta.
O processo desenvolvido no que se tornaria mais adiante a Capital
Mundial do Café foi inspirado, acrescenta, no que ocorreu em Birigui,
interior paulista. "Há registros de que em 1924 Lord Lovat passou por
Birigui, que contava com a colonização pronta, feita pela Companhia São
Paulo de Colonização e Madeira. Birigui não tinha mais terras
disponíveis, mas Londrina sim. Foi então que compraram 350 mil alqueires
da Companhia Marcondes, detentora das terras na época, e o restante de
outros concessionários", diz.
Segundo Schwartz, até o mapa de divisão dos lotes era semelhante ao
feito em Birigui. Toda essa preparação contribuiu para que a cidade não
perdesse tempo no quesito desenvolvimento. A mata foi derrubada e a
estrada e os terrenos abertos rapidamente para receber os compradores.
Os agrimensores vieram fazer as primeiras demarcações de território em
1932.
Já na década de 30, cidade tinha energia elétrica e pavimentação
Uma série de fatos importantes marcou a história de Londrina na
década de 1930. Além da fundação do município, houve a implantação de
serviços de energia elétrica, água e pavimentação das ruas. Foi nomeado o
primeiro prefeito, Joaquim Vicente de Castro, pelo interventor de
estado Manoel Ribas.
Mandato ameaçado
Em 1936, Willy Davis era eleito como prefeito. Chegou a ter o
mandato ameaçado, por conta de sua ascendência inglesa, mas conseguiu
provar a cidadania brasileira. A população fez passeata para saudá-lo
após seu regresso de Curitiba, onde foi resolver o assunto.
Naquele ano também foi instalada a primeira Câmara Municipal de
Londrina, presidida por João Wanderley. Em 1937, tinham início as
atividades da Associação Comercial de Londrina. Em 1938, Londrina
tornava-se comarca do Judiciário. No ano seguinte, contava com mais de
dez escolas municipais, além de particulares, como o Instituto Mãe de
Deus, e grupos escolares, então administrados pelo governo do Estado.