sábado, 14 de julho de 2018

CAMINHOTO O PAI DO CINEMA NO NORTE DO PARANÁ

FOLHA DE LONDRINA

O homem de cinema de Londrina é mesmo Antônio Augusto Caminhoto. Ele foi o responsável pela abertura, em 28 de junho de 1934, da primeira sala do município, e também do Norte do Paraná, voltada exclusivamente para a exibição de filmes. Batizado de Cine Londrina, o cinema exibiu em sua estréia o filme mudo ''Daniel na Cova dos Leões'', ao som de um conjunto de músicos. ''A música nessa época era produzida ao vivo. Eu me lembro que meu pai contava de um senhor que tocava violino e de outro que tocava acordeom'', recorda Julieta Caminhoto Rotondo, filha do pioneiro do cinema. 
Ela destacou ainda as reações que a novidade despertava nas pessoas. ''O cinema era uma coisa nova. Todos se surpreendiam sempre. Era comum as pessoas se esconderem ou fugirem da sala quando, por exemplo, mostravam um trem indo em direção a tela'', disse a filha de Caminhoto. ''Certa vez um rapaz caiu da cadeira com o susto que levou com o filme'', destacou. 
Além do primeiro Cine Londrina, que após sucessivas reformas viria se a tornar Cine Avenida (1940) e terminar seus dias de glória como Cine Brasília (1958), Antônio Augusto Caminhoto foi proprietário de salas em várias cidades do norte do Estado. ''Meu pai veio pra região com a idéia fixa de montar cinema. Ele ficou com a máquina de arroz por muito pouco tempo, porque a poeira que saía do beneficiamento do arroz fazia muito mal para seus olhos. Eu posso dizer que ele uniu a necessidade com a vontade'', destacou Julieta Caminhoto. 
Ainda em Londrina, Antônio Caminhoto comandou também o Cine Teatro Municipal, de Satoro Nishiyama, na avenida Rio de Janeiro (atual Centro de Referência do Artesanato, o Cereal) transformando-o em 1956 em Cine Jóia, um dos mais populares cinemas da cidade, principalmente por causa de sua programação regada a Mazzaropi e ''bang-bang spaghetti'', além é claro do preço, na época, o mais barato. Com isso, o cinema era frequentado por muita gente, e até um cognome carinhoso aos seus frequentadores foi criado, o ''Playboy de Vila''. 
Aliás, o cinema era um dos mais lucrativos da Empresa Caminhoto de Cinemas, tendo sido responsável pelo capital acumulado para a construção de salas em Ibiporã (Cine Radar), Uraí (Cine Uraí), Assaí (Cine Assai), Cambé (Cine Recreio) e nos municípios de Rolândia (Cine Bandeirantes), Cianorte (Cine Iguaçu), Terra Boa (Cine São Luiz), entre outros. Mas, a ''Jóia'' da família Caminhoto teve seu fim decretado de forma trágica, por meio de um incêndio na madrugada do dia 10 de novembro de 1975, depois de quase 35 anos de funcionamento. ''Foi uma tristeza quando o Cine Jóia queimou. Até hoje não sabemos se o acidente foi acidental ou proposital. Não gosto nem de lembrar'', aponta Julieta. ''Mas o grande xodó de todos era mesmo o Augustus''. 
De acordo com a filha de Caminhoto, o Cine Augustus, também construído com parte do lucro do Jóia e dos empreendimentos imobiliários que a família mantinha, é o cinema mais querido, não apenas de sua família, mas de todos aqueles que frequentaram sessões de cinema em Londrina. ô Eu cheguei a chorar quando decidimos fechá-lo", lembrou Julieta Caminhoto. 
O Cine Augustus foi inaugurado em 19 de setembro de 1963 com o filme ''El-Cid''. A produção, estrelada por Charlton Heston e Sophia Loren, marcava assim a abertura da primeira sala do País a contar com projeção em 70 mm - Todd AO, que permitia uma imagem mais nítida numa tela de 20 metros de comprimento e 19 de largura. Curiosamente, o cinema, que contava ainda com aparelhagem importada da Itália e 1.500 poltronas estofadas em declive, foi aberto apenas dois dias antes da inauguração da primeira emissora de TV do interior do País.''A televisão, aliada à baixa qualidade das pornochanchadas brasileiras, que a lei nos obrigava a exibir por determinado número de dias, ajudaram a tirar o público dos cinemas'', explicou Julieta. 
Porém, ainda que a televisão tomasse cada vez mais os telespectadores da sala escura, Antônio Caminhoto abriu ainda, na década de 1970, o Cine Espacial, na Vila Nova, seu segundo cinema fora do Centro - o primeiro havia sido o Cine Marabá, na Vila Casoni, na década de 1940 e de curtíssima duração. ''A televisão quando veio, foi pra ficar mesmo. Eu fiquei sabendo que na época em que o Augustus fechou, São Paulo perdeu cerca de 60% de suas salas. Isso mostra que não foi uma realidade apenas local'', acrescentou Julieta. ''As pessoas preferiam ver as novelas a arriscar uma sessão nos cinemas''.


Luiz Bartelli Jr.
Especial para a Folha2

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