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A imigração italiana no Brasil foi intensa, tendo como ápice o
período entre os anos de 1880 e 1930. A maior parte dela se concentrou
no estado de São Paulo.7
Os italianos começaram a imigrar em número significativo para o Brasil a
partir da década de 1870. Foram impulsionados pelas transformações
socioeconômicas em curso no Norte da península itálica,
que afetaram sobretudo a propriedade da terra. Um aspecto peculiar à
imigração em massa italiana é que ela começou a ocorrer pouco após a unificação da Itália (1861), razão pela qual uma identidade nacional desses imigrantes se forjou, em grande medida, no Brasil.7
O século XIX foi marcado por uma intensa expulsão demográfica na Europa. O alto crescimento da população, ao lado do acelerado processo de industrialização,
afetaram diretamente as oportunidades de emprego naquele continente.
Estima-se que, entre 1870 e 1970, em torno de 28 milhões de italianos
emigraram (aproximadamente a metade da população da Itália). Entre os
destinos principais estavam diversos países da Europa, América do Norte e América do Sul.8
Não apenas a população da Itália, mas de toda a Europa de um modo geral estava afundada na miséria no século XIX. A transição entre um modelo de produção feudal para um sistema capitalista afetou diretamente as condições sociais no continente europeu.9
As terras ficaram concentradas nas mãos de poucos proprietários, havia
altas taxas de impostos sobre a propriedade, fazendo o pequeno
proprietário se endividar com empréstimos. Havia a concorrência desigual
com as grandes propriedades rurais, que fazia o preço dos produtos do
pequeno proprietário ficarem muito baixos, empurrando essa mão-de-obra
para as indústrias nascentes, que não conseguiam absorver essa massa de
trabalhadores, saturando as cidades com desempregados. A medida que a
disputa pelos mercados consumidores se acirrou, a concentração de terras
nas mãos de poucos se agravou. Assim, milhões de camponeses, que antes
eram pequenos proprietários rurais, desceram à condição de trabalhadores
braçais (bracciante) nas grandes propriedades rurais. Mesmo
aqueles que continuaram na condição de pequenos proprietários não
conseguiam mais tirar seu sustento da terra. Isto porque as terras eram
normalmente adquiridas por herança, e o filho mais velho adquiria a
propriedade após a morte do pai, enquanto os outros filhos eram
excluídos. Mesmo quando as terras eram divididas entre os filhos, o
fracionamento acarretava no recebimento de um pedaço de terra muito
pequeno, tornando impossível dali extrair o sustento.9
No século XIX, a população europeia cresceu duas vezes e meia, agravando ainda mais os problemas sociais naquele continente. Ao retratar o Vêneto
oitocentista, região italiana de onde veio 30% dos imigrantes italianos
no Brasil, o historiador Emilio Franzina escreveu que "podia-se morrer
de inanição e que a única alimentação da classe rural não passava de
polenta, uma vez que a carne de vaca era um mito e o pão de farinha de
trigo inacessível pelo seu alto preço". Em outras regiões da Itália e em
outros países europeus a situação não era diferente: a fome e a miséria
assolavam a Europa. O camponês europeu nutria grande amor pelo seu
pedaço de terra e toda a sua existência girava em torno da manutenção da
sua propriedade. O seu mundo não ia além da comunidade a qual pertencia
e seu ideal econômico era a auto suficiência. O continente americano
aparece, nesse contexto, como um destino sonhado por milhões de
europeus, que imigravam com a promessa de se tornarem grandes
proprietários agrícolas.9
Foi assim que milhões de camponeses europeus, que não conheciam nada
além do seu vilarejo de origem, tornaram-se emigrantes. Primeiramente,
buscaram trabalho nas cidades. Em seguida, nos países vizinhos, numa
migração sazonal quando a demanda por mão-de-obra aumentava, como em
época de colheitas. Depois, regressavam para casa. Quando essas
alternativas já não surtiam mais efeito, buscaram a emigração
transoceânica, sobretudo para os países das Américas. Estados Unidos, Canadá e Argentina
eram países que tinham a capacidade de atrair grande número de
imigrantes espontâneos. O Brasil, por sua vez, teve que apelar para uma
migração subvencionada, na qual o próprio governo brasileiro pagava a
passagem dos imigrantes.9 Do fim das Guerras Napoleônicas até a década de 1930, 60 milhões de europeus emigraram. Destes, 71% foram para a América do Norte, 21% para a América Latina (sobretudo Argentina e Brasil) e 7% para a Austrália.
Nota-se que a nacionalidade que mais imigrou para a América Latina foi a
italiana, superando os espanhóis e os portugueses. Dos 11 milhões de
imigrantes que foram para a América Latina, 38% eram italianos, 28% eram
espanhóis e 11% eram portugueses.10
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