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A Londrina no tempo das serrarias (2)
23/12/2009
Foto: Arquivo pessoal
Toninho, sentado no capô, Bertoldo Kerst, no volante e Luiz Carlos Belinetti, de carona. Ao fundo edifício Santo Antonio, na Av. Paraná, em início de construção
Toninho, sentado no capô, Bertoldo Kerst, no volante e Luiz Carlos Belinetti, de carona. Ao fundo edifício Santo Antonio, na Av. Paraná, em início de construção
Na Londrina dos anos de 1950, agora trabalhando
na REAL- Rede Estadual Aérea Ltda, o ex-jornaleiro/engraxate Antonio
Ribeiro da Fonseca, o Toninho, se divertia com uma cena muito comum no
campo de aviação, quando este se localizava no bairro da Aviação Velha,
zona sul de Londrina.
E qual era a cena? Com a chegada dos grandes aviões no aeroporto da cidade, muita gente ia lá só pra ver os pousos e decolagens dos enormes DC3. Aí, na hora da decolagem...
“Quando o avião levantava voo era aquele poeirão, voava chapéu pra todo lado e aquele monte de gente correndo atrás pra pegar no meio da poeira”, lembra Toninho que, por essa época, ainda morava na casinha de madeira localizada no terreno da serraria SIAM, onde o pai trabalhava desde a chegada em Londrina em 1945.
Deixou de morar lá em 1953 quando um incêndio devastador queimou por inteiro a sua e outras 20 casas das cerca de 100 habitações que abrigavam os empregados da SIAM, empresa que ocupava toda aquela área hoje ocupada pela Viação Garcia.
“O fogo começou numa das casas e se alastrou pras outras, era tudo casa de madeira, coberta com tabuinhas de compensado, foi difícil controlar”, relata Toninho, lembrando que, apagada as chamas, só restou à sua família um saco de roupas e uma máquina de costura.
Mas, desde aquele tempo, o londrinense não nega fogo e, da mesma forma que o fogo destruiu a casa da família Ribeiro da Fonseca, uma chama solidária se acendeu no coração de um amigo do pai de Toninho:
“O seu Jorge, dono do bar Tropeiro, que ficava ali na avenida Celso Garcia Cid, entre as ruas Uruguai e Brasil, ao lado da fábrica de refrigerantes Balan, ficou com dó da nossa família e deu uma casa pra gente morar ali na rua São Jerônimo, perto da antiga zona do meretrício, que nessa época ficava na rua Brasil, entre as ruas São Jerônimo, Maranhão e adjacências.”
Mas, além desse incêndio destruidor, outras lembranças quentes, arrebatadoras, povoam a mente de Toninho e, no terreno da diversão, ele não titubeia em dizer: “A melhor época pra se divertir em Londrina era no Grêmio, no tempo em que ele funcionava no antigo prédio da Associação Comercial, ali na rua Minas Gerais.”
O que o Grêmio tinha que os outros não tinham, Toninho? “Nessa época era só o Grêmio e o Country na cidade. O Country era o clube da elite e o Grêmio era da classe média, mas o Grêmio não tinha igual, eram uns bailes maravilhosos, as meninas muito bem arrumadas, a gente de terno, tirando elas pra dançar...”
Lembrando da orquestra maestro Gervásio - “A melhor orquestra que já teve em Londrina, o Gervásio era demais, merece estar no céu” - Toninho revela que o som tirado pelos comandados do nosso grande maestro “não era essa barulheira que é hoje, que não dá nem pra conversar; a gente dançava conversando com a moça, eram músicas lindas, quando tocava um bolero então... Apagavam algumas luzes e a gente ficava dançando à meia-luz... E no carnaval!? Os melhores carnavais da minha vida foram ali”
Segundo Toninho, era no domingo que a coisa fervia: das três às seis da tarde, as brincadeiras dançantes que a ULE - União Londrinense dos Estudantes promovia eram imperdíveis. Aí, depois flertar, dançar e namorar a tarde toda, o encontro seguinte já saía agendado:
“A gente ia pra casa tomar banho pra pegar a sessão das oito no cine Ouro Verde”, conta Toninho, revelando que, depois do cinema, “era Grêmio de novo, no baile de domingo que começava no final da tarde e acabava à meia-noite porque no dia seguinte era segunda-feira, dia de trabalhar.”
Dos bailes e brincadeiras no Grêmio, Toninho nunca se esquece da suspensão de um mês que seu amigo Valter Menegazzo levou por estar dançando de rosto colado com a namorada que, mais tarde, viria a ser a sua esposa.
Mas, além das brincadeiras dançantes e dos bailes, duas outras diversões agitavam a Londrina do tempo das serrarias: a matinê do cine Londrina e o corso de carnaval. Da matinê, Toninho lembra dos seriados do Tarzan, Nioka, Flash Gordon, Os Três Mosquiteiros e Hopalong Cassidy. “Quando o mocinho aparecia para salvar a mocinha, todo mundo começava a bater os pés dentro do cinema.”
Já do corso de carnaval o que ele lembra é que “era bom demais, era um carro atrás do outro na avenida Paraná, do edifício Santo Antonio até aquele redondo das casas Fuganti, ia e voltava na maior folia, a gente ia sentado no capô do carro, cantando as marchinhas de carnaval, que vinham todas escritas num livrinho que a gente comprava na banca de jornal.”
Além de cantar, os foliões do corso jogavam confete, serpentina e lança perfume nas costas das mulheres, costume que algumas vezes causava a ira de algum marido ou namorado enciumado. Mas, fora isso, Toninho não duvida:
“Foi a melhor época de Londrina. Além dessa diversão sadia, havia integridade em todos os setores da sociedade, havia uma elite política na Câmara, eram pessoas responsáveis, a Prefeitura era bem administrada, havia mais seriedade. Tenho saudades daquela que eu considero a época de ouro de Londrina.”
Texto: Máxima Comunicação/Apolo Theodoro
Contatos com a Redação do Planeta podem ser feitos pelo fone (43) 3339-7199
E qual era a cena? Com a chegada dos grandes aviões no aeroporto da cidade, muita gente ia lá só pra ver os pousos e decolagens dos enormes DC3. Aí, na hora da decolagem...
“Quando o avião levantava voo era aquele poeirão, voava chapéu pra todo lado e aquele monte de gente correndo atrás pra pegar no meio da poeira”, lembra Toninho que, por essa época, ainda morava na casinha de madeira localizada no terreno da serraria SIAM, onde o pai trabalhava desde a chegada em Londrina em 1945.
Deixou de morar lá em 1953 quando um incêndio devastador queimou por inteiro a sua e outras 20 casas das cerca de 100 habitações que abrigavam os empregados da SIAM, empresa que ocupava toda aquela área hoje ocupada pela Viação Garcia.
“O fogo começou numa das casas e se alastrou pras outras, era tudo casa de madeira, coberta com tabuinhas de compensado, foi difícil controlar”, relata Toninho, lembrando que, apagada as chamas, só restou à sua família um saco de roupas e uma máquina de costura.
Mas, desde aquele tempo, o londrinense não nega fogo e, da mesma forma que o fogo destruiu a casa da família Ribeiro da Fonseca, uma chama solidária se acendeu no coração de um amigo do pai de Toninho:
“O seu Jorge, dono do bar Tropeiro, que ficava ali na avenida Celso Garcia Cid, entre as ruas Uruguai e Brasil, ao lado da fábrica de refrigerantes Balan, ficou com dó da nossa família e deu uma casa pra gente morar ali na rua São Jerônimo, perto da antiga zona do meretrício, que nessa época ficava na rua Brasil, entre as ruas São Jerônimo, Maranhão e adjacências.”
Mas, além desse incêndio destruidor, outras lembranças quentes, arrebatadoras, povoam a mente de Toninho e, no terreno da diversão, ele não titubeia em dizer: “A melhor época pra se divertir em Londrina era no Grêmio, no tempo em que ele funcionava no antigo prédio da Associação Comercial, ali na rua Minas Gerais.”
O que o Grêmio tinha que os outros não tinham, Toninho? “Nessa época era só o Grêmio e o Country na cidade. O Country era o clube da elite e o Grêmio era da classe média, mas o Grêmio não tinha igual, eram uns bailes maravilhosos, as meninas muito bem arrumadas, a gente de terno, tirando elas pra dançar...”
Lembrando da orquestra maestro Gervásio - “A melhor orquestra que já teve em Londrina, o Gervásio era demais, merece estar no céu” - Toninho revela que o som tirado pelos comandados do nosso grande maestro “não era essa barulheira que é hoje, que não dá nem pra conversar; a gente dançava conversando com a moça, eram músicas lindas, quando tocava um bolero então... Apagavam algumas luzes e a gente ficava dançando à meia-luz... E no carnaval!? Os melhores carnavais da minha vida foram ali”
Segundo Toninho, era no domingo que a coisa fervia: das três às seis da tarde, as brincadeiras dançantes que a ULE - União Londrinense dos Estudantes promovia eram imperdíveis. Aí, depois flertar, dançar e namorar a tarde toda, o encontro seguinte já saía agendado:
“A gente ia pra casa tomar banho pra pegar a sessão das oito no cine Ouro Verde”, conta Toninho, revelando que, depois do cinema, “era Grêmio de novo, no baile de domingo que começava no final da tarde e acabava à meia-noite porque no dia seguinte era segunda-feira, dia de trabalhar.”
Dos bailes e brincadeiras no Grêmio, Toninho nunca se esquece da suspensão de um mês que seu amigo Valter Menegazzo levou por estar dançando de rosto colado com a namorada que, mais tarde, viria a ser a sua esposa.
Mas, além das brincadeiras dançantes e dos bailes, duas outras diversões agitavam a Londrina do tempo das serrarias: a matinê do cine Londrina e o corso de carnaval. Da matinê, Toninho lembra dos seriados do Tarzan, Nioka, Flash Gordon, Os Três Mosquiteiros e Hopalong Cassidy. “Quando o mocinho aparecia para salvar a mocinha, todo mundo começava a bater os pés dentro do cinema.”
Já do corso de carnaval o que ele lembra é que “era bom demais, era um carro atrás do outro na avenida Paraná, do edifício Santo Antonio até aquele redondo das casas Fuganti, ia e voltava na maior folia, a gente ia sentado no capô do carro, cantando as marchinhas de carnaval, que vinham todas escritas num livrinho que a gente comprava na banca de jornal.”
Além de cantar, os foliões do corso jogavam confete, serpentina e lança perfume nas costas das mulheres, costume que algumas vezes causava a ira de algum marido ou namorado enciumado. Mas, fora isso, Toninho não duvida:
“Foi a melhor época de Londrina. Além dessa diversão sadia, havia integridade em todos os setores da sociedade, havia uma elite política na Câmara, eram pessoas responsáveis, a Prefeitura era bem administrada, havia mais seriedade. Tenho saudades daquela que eu considero a época de ouro de Londrina.”
Texto: Máxima Comunicação/Apolo Theodoro
Contatos com a Redação do Planeta podem ser feitos pelo fone (43) 3339-7199
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