quinta-feira, 10 de abril de 2014

POESIA PARA LONDRINA

Londrina
Cidade, cidade
teu coração
é como a curva de um rio.
Saúdo teus loucos
me dizendo bom dia.
Sou irmão de teus meninos
arrebentando vidraças.
Muito aprendi no teu corpo
mas ainda é pouco
o que sei de ti.
teus carregadores carregando marmitas
teus tigres alegres no caminho das escolas
teus trilhos de estômagos vazios
tua barriga inchada de sonhos
a febre que te engravidou
tua poeira endiabrada
as tetas vermelhas desta lama
a morte branca torrando o café e o pão.
Mas no meio da praça
um lambe-lambe pede sorrisos
para o pássaro ferido.
No velho prédio da estação
repleto de lembranças
ecoa uma viola de ternura
sola no peito nomes de amigos que partiram.
Cidade, doce cidade:
são tantos lugares aqui
é tão passageiro o agora
que me vem uma dor assim
como um vazio na história.
Estrela roxa de terra
são vários os labirintos
incontáveis os mistérios
nas teias do teu cotidiano.
Tuas noites de neon e cerveja
teu relógio cardíaco
teu perobal recortado no horizonte
tuas charretes e motocicletas
teus edifícios e lago refletidos
teus camelôs engravatados
tua ilha de fantasia
Cidade, louca cidade:
eu sei que na tua ausência
compreendo perfeitamente
o sentido de uma palavra: saudade.
 — com Nelson Capucho.
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