Retornando
ao dia 28 de Julho de 1935
NIGER MARENA
NIGER MARENA
Reflexão de um Museólogo
“O passado é só o que existe!
É o único
capital de que dispomos.”
Anatole France
escritor francês
1844 - 1924
|
Iniciava-se o ano de 1935. Em função da Revolução Paulista de 1932 o Presidente Getúlio Vargas convocou em 1933 uma Assembléia Nacional Constituinte. Promulgada em 11 de
Junho de 1934 era o texto legal o
qual vigorava no país.
Os trabalhos dessa Assembléia tiveram
pela primeira vez a participação de uma mulher: a cientista Berta Lutz.
É a primeira constituição que permite o voto feminino. Até então votar
era privilégio apenas dos homens.
1935 o Brasil não possuía
uma indústria automobilística. Nem
se cogitava pela fundação da Petrobrás. A Exon e a Shel detinham o “monopólio”
em prover o pais de gasolina e diesel. Estradas dignas em se transitar apenas
havia a Rio São Paulo. Éramos fornecedores de “matéria prima” para o resto do
mundo e comprovamos produtos industrializados.
Londrina fundada no dia 21 de agosto de 1929 já existia! Desde 10 de Dezembro de 1934 era “sede municipal”! Seu imenso território
municipal estendia para além das hoje cidades de Loanda ou Nova Londrina! Fazia
fronteiras com os Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul e com os Municípios
de Guarapuava e Tibagi. O sertanista
Benevides Mesquita heroicamente encontrava-se preparando as glebas de onde
surgiriam as atuais cidade de Arapongas
e Apucarana.
Os moradores daquele pequeno
povoado no ano de 1935 não ultrapassaria além de umas 600 almas., se tanto. Não havia água encanada ou rede de
esgoto, sequer energia elétrica.
Estradas na verdade eram picadas
que a Companhia de Terras ia abrindo entre as matas para a partição de seus
lotes rurais.
Abria-se as atuais Ruas Duque
de Caxias, Maranhão, Souza Naves, movimentada era a Rua 15 de Novembro, atual
calçadão. Por ali se espremiam as casas próximas da Igreja Matriz, consagrada
por D. Fernando Taddei, primeiro bispo diocesano de Jacarezinho ao Sagrado
Coração de Jesus.
Heróica gente! Havia nelas um
sentimento de esperança e de progresso! Dizia-se que breve o trem parado em
Jataizinho iria chegar na localidade! O trem! Sem estradas dignas desse nome
era o principal veículo para transportar toda a produção agrícola da região.
Transportar pessoas e seus pertences, prover o comércio de seus produtos. A linha telegráfica que o acompanhava era a
comunicação com o resto do mundo e do país.
Todos olhavam com expecativa
para aquela “Estaçãozinha” edificada ali onde hoje encontra-se o TERMINAL
URBANO DE ÕNIBUS! Entre as Ruas Benjamin Constant com a Avenida Rio de Janeiro.
Viam -se os trilhos já assentados e construía-se próximo do túnel, existente no
pateo do museu a Casa do Chefe da Estação.
Este o funcionário público de maior prestígio em qualquer localidade daquela
época.
No crepúsculo do dia 27 de
Julho de 1935 corre célere a notícia por todo o povoado! Amanhã o trem vai chegar em Londrina! Engenheiro Willie Davids, Prefeito Municipal com os Diretores da Cia. de Terras foram
pernoitar em Jataizinho para no dia seguinte acompanharem a primeira locomotiva
a atravessar a ponte sobre o Rio Tibagi.
Amanhece 28 de Julho de 1935. Curiosos vão se reunindo no entorno da
primeira Estaçãozinha, onde hoje, ergue-se o Terminal Urbano de Ônibus, alguns
levam o seu “farnel” As primeira horas
da manhã são “frustantes”!... “Cadê o Trem”?...
Ele começa a deixar a Estação
de Jataizinho por volta das 11 horas
daquela manhã. Vem devagar para que as autoridades e convidados possam observar
em “detalhes” a ponte sobre o Rio Tibagi.
Fantástica obra de engenharia há 80 anos
recebendo todo tráfego ferroviário do Norte do Paraná sem que se registre sob
ela qualquer problema!
Quando todos já se encontram
desapontados eis que ouvem um apito!!!
É elaaaaa!... A Maria Fumaça!
Baldwin 1910 fabricada em
Nova York anunciando
sua chegada! Era perto de 3 horas da tarde! Ela finalmente desponta trazendo
sobre si as Bandeiras Nacional do Brasil, o qual não mais existe, e da
Inglaterra a qual ainda existe. Fogos
pipocam por toda a cidade! Finalmente “ela chegou...”
81
anos depois, encontramo-nos diante de gerações as quais não viveram esse
momento ou sequer sabem o que é hoje “andar
de trem” e da sua importância. Diariamente transitam pelo terminal Urbano
de ônibus sem saber que exatamente ali funcionou a partir de 1935 a
primeira Estação Ferroviária de Londrina. Que a Avenida Leste Oeste já foi
caminho do trem...
Aqueles primeiros anos da fundação de
Londrina os comparo sofridos como um “trabalho de parto”. Toda mulher sofre ao dar a luz a um ser humano todavia a
“alegria” em sentir o seu rebento em seus braços as faz esquecer todos os seus
padecimentos.
Londrina não nasceu hoje e nem os que
nela habitam hoje a edificaram. Assentamo-nos sob o “sofrimento” de brava
gente pioneira, heróica, destemida, muitos dormem hoje no completo “anonimato”. Lutaram pela vida mas não conseguiram amealhar grandes fortunas
mas viveram com “dignidade” sem esmolas de “bolsa escola”, “vale gás”, “bolsa
família”...
Proveram seu sustento com as “próprias mãos” e cantavam o HINO NACIONAL orgulhosos naquela época em serem
“brasileiros”. Sequer imaginavam de
que seu tão belo país deixaria de existir a partir de alguns de suas gerações.
Muito do que aqui consignei ouvi de
minha avó materna, de minha mãe e tias heróicas mulheres as quais acompanharam meu avô, desde Belo Horizonte ao
inóspito Norte do Paraná a partir do ano de 1924. Geraram um descendente o qual
81 anos depois, tenta perpetuar a “memória” dessa brava gente, a qual
a natureza já não fabrica mais. Peroro:
“Sem fé a
vida perece.
Sem amor ela sequer
existe.”
|
Dado
no silêncio dos termos do Museu de Geologia e Paleontologia
Território
do Departamento de Geociências da UEL
Antigos
termos da Fazenda do Dr. Mabio Palhano
“in fine” Calendas Júlia de 2016 DC –
3. 3 6
9 anos de Memphis
Annum da AMORC Rosae Crucis.
28 de Julho de 2016
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